Porque muitas vítimas de abuso sofrem caladas?

Educação - Quarta-feira, 28 de Julho de 2021


Porque muitas vítimas de abuso sofrem caladas?

    Durante o último final de semana instalou-se uma polêmica sobre um suposto abuso à uma criança que teria ocorrido durante uma festividade na casa de um artista conhecido nacionalmente.

    As imagens mostravam um homem adulto passando o braço para abraçar a criança, que aparenta ter entre 8 e 11 anos, e em determinado momento ela se desvencilha dele com um leve empurrão. Só pela análise da imagem não é possível saber se houve ou não abuso, mas este caso traz à tona um assunto realmente importante: por que muitas crianças são abusadas sexualmente, muitas vezes com singelos toques em suas partes íntimas, e sofrem caladas, muitas vezes se colocando na posição de culpa?

    Para responder a esta pergunta, é importante analisarmos o desenrolar do caso ocorrido na casa do artista. Após a viralização das imagens e diversas acusações de que ali teria ocorrido um abuso, tanto o artista conhecido nacionalmente quanto outras figuras públicas se pronunciaram em suas redes sociais. Todos os pronunciamentos eram no seguinte sentido: ?O homem está sendo acusado injustamente, ele é uma pessoa de dentro da minha casa, eu conheço o seu caráter, as pessoas estão acusando sem conhecê-lo?.

    Em nenhum dos pronunciamentos alguém menciona a parte mais importante neste caso: a criança! A criança deve ser ouvida com respeito neste momento, sem alegações de que ?ele é uma pessoa de dentro de casa?. Pronunciamentos como este desencorajam crianças e adolescentes que passam por situações de abuso a denunciarem, pois tem medo de ouvir respostas como ?mas ele é um homem de caráter?.

 

      Aumento de casos de abuso durante a pandemia

     Dados do Disque 100 mostram que mais de 70% dos abusos denunciados foram praticados dentro da casa do abusador ou da vítima! O que mostra que o fato da pessoa ser ?de dentro de casa? não impede que uma situação de abuso ocorra, muito pelo contrário, a maior parte dos abusos à crianças e adolescentes são praticados exatamente desta forma.

     Por isso que em um momento em que há uma suspeita de abuso, defender o acusado dizendo que é ?uma pessoa de caráter de dentro de casa? apenas desencoraja que outras crianças e adolescentes que passam pela exata situação denunciem!

     No Paraná, a situação é ainda mais alarmante, um levantamento da Secretaria de Segurança Pública mostrou que em 2020 foram registrados 3.829 casos de violência sexual contra vulneráveis e 99% destes casos aconteceram dentro de casa por pessoas muito próximas às vítimas. Durante o período de isolamento este número passou a ser crescente, sendo que em 2021, apenas nos três primeiros meses do ano já foram registrados 2.773 casos.

 

       Uma análise forense

   Para ter uma visão jurídica desta situação, procuramos a Dra. Fernanda Fressato, Advogada criminalista, especializada em psicologia criminal e atuante nos municípios de Antonina e Guaraqueçaba. Ela nos explicou que ao verificar um comportamento estranho da criança com relação à algum adulto, ou presenciar situações em que a criança é muito abraçada ou muito tocada por um adulto, o primeiro passo é afastar a criança imediatamente desta pessoa e ouvi-la.

     ?Por isso é essencial que haja uma relação de confiança no núcleo familiar, para que a criança possa explicar para a mãe ou para o pai o que aconteceu de fato, sem julgamentos. Jamais diga à criança que isso é coisa da sua cabeça, ou que o agressor é uma ?pessoa de caráter e de dentro de casa?. Muitas crianças sofrem caladas por não serem escutadas!? comenta Fernanda.

     A advogada nos relatou ainda que, desde o começo de 2020 foi perceptível o aumento no número de casos de violência sexual contra vulneráveis:

     ?No nosso escritório o número de mães que procuraram ajuda para casos como este foi muito superior se compararmos ao mesmo período em 2018 e 2019.  Precisamos estar cada vez mais atentos? completa a Advogada

 

     Das ações de prevenção no município

     No dia 18 de maio, dia mundial do combate a exploração sexual infantil, a Prefeitura de Guaraqueçaba por meio de suas secretarias municipais de Educação e de  ação social e assuntos da criança, do adolescente e da família, realizaram entrega de cartilhas educativas, e divulgaram vídeos de conscientização.

     A Psicóloga Raquel de Lima Machado, que atua no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) de Guaraqueçaba, fala sobre a revitimização:

     ? A criança não deve ficar falando e repetindo o ocorrido, relembrando a violência que sofre. Ela deve falar somente em momentos específicos, como , para um juiz, ou na questão da terapia psicológica, ou para ela receber algum tipo de medicamento em virtude do ocorrido.? Diz a Raquel

     A Psicóloga comenta sobre o número de casos e o perfil dos abusadores:

    ?Infelizmente na maioria dos casos de abuso ocorrem quando as crianças estão no meio familiar, muitas vezes por uma pessoa de confiança e quando a criança ou adolescente se dá conta do que está acontecendo, pode chegar ao ato extremo do suicídio?. fala a psicóloga Raquel Machado, ela conclui sua fazendo um alerta aos pais e responsáveis:

     ?Saiba com quem seu filho está e o que ele está fazendo, por mais que você esteja ausente, procure  conversar com ele e saber o que ele fez durante o dia, quais as atividades, do que brincou, é importante analisar o comportamento da criança, se ela mostra aversão a alguém, procure saber o motivo da falta de afeição, e, em caso de suspeita procure o  conselho tutelar.? Apela a psicóloga

 

     Conselho Tutelar     Em vídeo divulgado em redes sociais a conselheira tutelar Kelly Cristina Lourenço Xavier que atua no  do Conselho Tutelar de Guaraqueçaba, faz um apelo para que as vítimas e a população denunciem os casos de abuso.

     ?Nós, conselheiros tutelares de Guaraqueçaba, também fazemos parte das campanhas contra o abuso sexual de crianças e adolescentes, se você é criança ou adolescente e está sofrendo algum tipo de abuso, denuncie no telefone  do conselho tutelar (41) 98475-0411.? Diz Kelly

 

ACIG ? Assessoria de Comunicação e de Imprensa de Guaraqueçaba

Jornalista responsável: Elaine Laufer (MTB/DRT-PR 12.367)

 

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